domingo, 30 de dezembro de 2012

Amir Somoggi analisa a gestão esportiva dos clubes brasileiros

Amir Somoggi analisa a gestão esportiva brasileira: ‘Nossos clubes não precisam de donos’

fonte :  www.lancenet.com.br

Consultor de marketing e gestão esportiva analista a gestão do futebol europeu e faz comparação com o modelo utilizado no Brasil

Quando o assunto é gestão esportiva, o Brasil pode se considerar estacionado nos anos 70. Quem acredita nisso é Amir Somoggi, um dos maiores especialistas em estudos de administração e auditoria esportiva do país. Para ele, conceitos de gestão aplicados no futebol europeu deveriam ser mais analisados pelos clubes brasileiros, o que não quer dizer que o modelo adotado lá deva ser imitado aqui.
A Europa vive um momento conturbado em termos de gestão, com alguns clubes nas mãos de xeques árabes ou magnatas russos. Apesar disso, boa parte dos clubes luta para valorizar a marca, contratando executivos que precisam mostrar resultados, o que ainda falta para o Brasil.
Os europeus têm diferentes modelos de gestão. Dos 20 clubes com maior faturamento em 2010/2011 apenas dois adotam o modelo associativo, que predomina no Brasil. Deveríamos mudar nosso modelo de gestão?
Real Madrid e Barcelona, que têm o modelo associativo, não são administrados como agremiações de bairro. Têm um trabalho de gestão por trás, um plano de negócios e entendem que o futebol é globalizado. Não acho que precisemos de um clube com dono para vê-lo gerido estrategicamente, mas se os dirigentes forem responsabilizados por seus atos a gestão tende a ser melhor.
Mas muitos apontam o sucesso financeiro de Real Madrid e Barcelona à forma como é feita a negociação dos direitos de TV na Espanha.
Há outros motivos. O Barça tem um terço do faturamento vindo do estádio e um terço vindo do marketing, que não se limita ao mercado espanhol, é muito forte nos mercados emergentes.
Na Alemanha vemos uma mistura de empresas na administração dos clubes e o modelo parece estar dando certo...
A Bundesliga não tem tanto apelo comercial, mas é a segunda em faturamento da Europa. Os clubes vão muito bem. Seja com ações na Bolsa, com o modelo clube-empresa ou com um mix de empresas com participação acionária e influência na administração.
Já na Inglaterra vemos muitos clubes com ações em Bolsa ou nas mãos de magnatas suspeitos de lavagem de dinheiro...
O Relatório Taylor (feito para combater o hooliganismo dos anos 80) foi muito elogiado pelos ingleses. Depois, o governo preparou mudança na lei para forçar os clubes a se profissionalizarem, virando empresas. Mas uma falha é que possibilitou a entrada de capital sem perguntar de onde era proveniente.
Algum clube está dando exemplo de gestão no Brasil?
No Sul, há algumas ações interessantes. O Internacional recebe de royalties mais do que o Flamengo, o que mostra como o clube carioca é mal administrado.
Como melhorar a administração no Brasil?
Aqui, ainda tem muita política nos clubes, diversas vice-presidências, quando poderíamos adotar a estrutura mais enxuta, como a europeia
DÍVIDA/RECEITAS DOS CLUBES
2004 - 0,72%
2005 - 0,58%
2006 - 0,61%
2007 - 0,51%
2008 - 0,53%
2009 - 0,55%
2010 - 0,54%

OBS.: Situação de endividamentos dos clubes que disputam a Bundesliga (de 2004 para 2010). Quanto mais perto de 1,0%, maior o endividamento. Portanto, a situação vem melhorando de 2004 (quando era de 0,72%) para 2010 (quando caiu: 0,54%). A parcela da dívida em relação à receita vem diminuindo

Gestão no futebol brasileiro passa longe do modelo adotado na Europa



LANCENET! inicia série que mostra os modelos de gestão dos clubes de futebol na Europa e o que os brasileiros podem fazer para melhorar

O modelo de gestão dos principais clubes europeus segue em linha distinta da adotada pelo futebol brasileiro. Enquanto na Europa, continente que reúne os 20 clubes mais ricos e com maior faturamento do mundo, a opção é pela transformação deles em empresa, no Brasil segue em voga o modelo associativo, em que muitos acabam geridos como "agremiações de bairro".
Dos 20 clubes com maior faturamento do mundo, segundo estudo da consultoria Deloitte, 70% adotam o sistema privado, mantendo o capital fechado e com um ou mais donos. Em 2005, eram 50% da lista. Seis aparecem no Top10, sendo quatro da Inglaterra (Manchester United, Arsenal, Chelsea e Liverpool) e dois da Itália (Milan e Inter).
Outros 20%, representados pelos clubes alemães, optaram por uma mistura do sistema associativo com a participação de empresas no capital, influenciando na administração. Eles têm um Conselho de Administração – com membros das empresas e do clube – que decide contratação de executivos, eleição do presidente e tem poder de destituí-los.
VEJA COMO SÃO GERIDOS OS CLUBE MAIS RICOS
Apenas dois, Real Madrid e Barcelona, seguem o modelo associativo, adotando, no entanto, a profissionalização da gestão esportiva, especialmente nos setores de marketing e finanças. A vantagem do clube com um ou mais donos é que ele tem mais autonomia para fazer investimentos. O proprietário deve se preocupar com a saúde financeira da instituição, inclusive porque tem de responder por ela com seus próprios bens. Piero Ausilio, que ajudou a montar o projeto esportivo da Inter de Milão, diz que "quando você sabe quem manda fica mais fácil trabalhar": - O dono, mesmo que seja movido pela paixão, e sabemos que futebol é paixão, encara o esporte como um negócio e cobra resultados esportivos e financeiros.
Já os que optaram por abrir o capital e lançar ações na Bolsa de Valores hoje não são tantos como no fimdos anos 90, especialmente devido à
crise econômica e às incertezas do mercado acionário. Não são poucos os casos dos que, logo no lançamento, receberam ingestão de capitais na casa dos 70 milhões de euros (R$ 180 milhões) ou até mais, mas depois viram suas ações despencarem, além do risco de elas acabarem concentradas nas mãos de grandes investidores estrangeiros sem identificação com a instituição. Um dos exemplos é o do Manchester United. Apesar de ter angariado muito dinheiro com o lançamento de ações, viu 75% delas pararem nas mãos do magnata norteamericano Malcolm Glazer, que se tornou o sócio majoritário, ganhou a opção de comprar as demais e virou o dono do clube, chegando a fechar seu capital (recentemente decidiu voltar à Bolsa para angariar recursos vendendo 17 milhões de ações, mas o preço ficou 30% abaixo das expectativas).
Clubes brasileiros: visão empresarial
Para especialistas consultados pelo LANCENET!, seja qual for a opção escolhida para conduzir os rumos de um clube o principal é ter a visão de  negócio. É o caso de Real e Barcelona, que seguem no modelo associativo, mas apresentam gestões diferentes das adotadas pelos principais clubes brasileiros.Para o consultor esportivo Amir Somoggi, sócios e torcedores não deixam de ser ouvidos pelas direções dos dois times espanhóis, que trabalham com afinco para o fortalecimento de suas marcas.- O Barcelona elege não só o presidente, mas uma Assembleia de Sócios. Isso mostra que um clube não precisa de um dono para ser gerido estrategicamente, mas tem de montar e implementar um plano de negócios, como também faz o Real.
Michel Platini, presidente da Uefa, declarou por intermédio de sua assessoria de imprensa que "seja qual for o modelo adotado é preciso equilíbrio entre receitas e despesas". Ele defende punição esportiva para os clubes com má gestão, como foi feito na França. Platini acha que o clubes deve sofrer sanções, como ser impedido de disputar torneios

- É o que tentamos implantar na Europa. O torcedor passa a ficar de olho na campanha do time e no que é feito com as finanças


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